quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Voz



 (All Rights Reserved to The Red Thread Movement)



Somos responsáveis por aquilo que sabemos!


  O meu nome e Amisha.
Quando tinha 12 anos vivia numa pequena vila com a minha família. Estudei até ao sexto ano mas a minha família não tinha dinheiro para que eu pudesse completar os meus estudos. Ajudava os meus pais com o trabalho, eles estavam felizes comigo mas eu não estava feliz porque continuávamos sem dinheiro.
Até que um dia um estranho veio até a nossa vila e pediu-me em casamento, eu estava com medo e disse que não, mas ele não desistiu. Os meus pais obrigaram-me a casar com ele, ele tinha 26 anos. Ele pediu-me para ir com ele para a Índia e prometeu-me que seriamos muito felizes lá. Quando chegámos á fronteira o meu “marido” vendeu-me a outro traficante. Esse traficante levou-me a pé até á Índia.
Acabei em Bombay aonde fui vendida a um homem que me mantinha em sua casa. Durante três dias não comi nada e esse homem trazia os seus amigos até mim para que abusassem de mim.
Esse traficante vendeu-me a um dono de um bordel que me disse que eu tinha que lhe pagar um dívida de $700 tendo relações sexuais com qualquer homem que ele me trouxesse.
Eu respondi-lhe que não e ele e os seus amigos violaram-me uns a seguir aos outros.
Puseram-me num quarto com outras 70 meninas Nepalesas. Dormíamos em pequenos colchões todos sujos e as nossas camas estavam separadas por lençóis. Eles mandavam á volta de 20-25 homens por dia para abusarem de nós.
Primeiro rejeitava os clientes mas de cada vez que o fazia batiam-me até sangrar ou até partirem-me as costelas.
Davam-me drogas para me manter sedada. Estive lá durante 4 anos. Até que me venderam a outro dono de um bordel que me disse que eu tinha que pagar uma dívida, eu nunca vi nenhum desse dinheiro. Estive grávida duas vezes e das duas vezes eles obrigaram-me a abortar.
Aos 19 anos descobriram que eu tinha HIV e fui deixada nas ruas, prostitui-me para tentar arranjar algum dinheiro para poder voltar para casa, após apenas dois meses voltaram a apanhar-me e voltaram a vender-me.”

Amisha é uma menina de verdade, mas esta não é a sua verdadeira história. Ela foi resgatada na fronteira pelo staff da KIN e ficou alojada numa casa de apoio antes de voltar para casa. Mas para tantas outras meninas que não são resgatadas a primeira história é a sua realidade. Estas meninas mesmo depois de serem resgatadas, muitas vezes têm tanto medo e tanta vergonha de contar as suas histórias. Aqueles que são escravizados mantêm o silêncio para que possam sobreviver. Para cada menina que conta a sua história existem milhares que irão manter o silêncio.

Você pode ser a voz destas meninas. Partilhe a sua história.

( Traduzido do panfleto The Red Thread Movement)

Conheci o The Red Thread Movement no lançamento de CD de uma banda de uns amigos. Estavam a vender as pulseiras á porta e como quem estava a vende-las era uma das minhas amigas comprei uma e comecei a fazer perguntas.
O The Red Thread Movement é uma organização fundada por três estudantes universitárias americanas que divulga informação sobre o tráfico humano e a prostituição de mulheres e meninas neste caso do Nepal. Mas este não é um problema que aflige só o Nepal, é um problema a nível mundial e do qual se fala pouco comparando-o com o tráfico de armas ou de drogas.

Estes são alguns factos que aparecem em imensas publicações e no panfleto em questão. Vamos lê-lo mantendo em mente de que somos responsáveis por aquilo que sabemos.

·      Existe um maior número de pessoas escravizadas em pleno século XXI do que no topo da era do comercio de escravos.
·      Adultos e crianças em trabalho forçado e prostituição á volta do mundo: 12.3 milhões ( Relatório de pessoas Traficadas, 2010)
·      A seguir ás drogas, o tráfico humano, é o segundo maior negocio criminoso. ( Departamento de Estado do E.U.A)
·      O mercado global do tráfico de crianças lucra para mais de 12 bilhões de dólares, e mais de 2 milhões de vitimas são crianças (UNICEF)
·      Existem mais de 300,000 crianças em risco por ano para serem exploradas na industria do sexo. (Departamento de Justiça dos E.U.A)
·      A idade média de entrada na industria do sexo é de 12 anos. (Departamento de Justiça do E.U.A)
·      Foi estimado que 100,000 menores são envolvidos na industria do sexo nos Estados Unidos da América (Projecto Polaris)
·      Aproximadamente 80% da vitimas de tráfico humano são mulheres e meninas...50% destas são menores. ( Departamento de Estado do E.U.A)
·      Um número estimado de 30-40,00 mulheres e meninas são traficadas do Nepal para a Índia todos os anos ( embora a maior parte dos documentos diga que o número é de 12,000  outras ONG’s  Nepalesas incluindo a KIN, estimam que o numero seja maior baseado no número de situações de trafico humano com as quais têm lidado nas unidades das fronteiras diariamente)
·      Num único Distrito Vermelho em Mumbai existem aproximadamente 20,000 meninas Nepalesas em prostituição forçada (KIN)
·      Aos 16 anos aproximadamente 60% das meninas Nepalesas nestes bordeis em Mumbai terão contraído HIV. (KIN)

Estes números são assustadores.
Neste caso especifico o Red Thread Movement foca-se nas meninas do Nepal, mas ao nosso lado , bem á frente dos nossos narizes pode estar a acontecer.

Como já havia mencionado isto é uma situação global.
Estamos todos vulneráveis mas mais ainda sendo mulheres.
A pobreza, a guerra, desastres naturais, ser órfã, viver na rua, as leis de emigração de cada pais ( ás vezes por não poderem mover-se legalmente num determinado pais e ter que viver ás escondidas há uma susceptibilidade maior  para este tipo de crime), pessoas que se aproximam de nós com interesse romântico, e não esqueçamos a procura (só se pode vender aquilo que querem comprar), o dinheiro (traficantes são motivado por dinheiro. Quantas vezes se pode vender uma bala ilegal?? Mas quantas vezes se pode vender uma menina de 13 anos? As pessoas podem ser vendidas inúmeras vezes o que faz com que o tráfico humano seja bastante lucrativo).

Para que este problema seja ainda mais real aqui estão alguns factos sobre o tráfico humano na U.E.

A Bulgária é uma fonte de tráfico humano e também um país de transito( países por onde as vitimas passam antes de chegarem ao seu destino final). As vitimas são traficadas a partir do Médio Oriente, Ucrânia, Moldávia e Roménia passando através da Bulgária para a Alemanha, Bélgica, França, Itália, Espanha, Áustria, Noruega, Republica Checa, Polónia, Grécia, Turquia e Bulgária. ( Fonte: http://news.xinhuanet.com/english/2010-01/11/content_12791369.htm )

A França é o país de destino para mulheres e meninas traficadas para exploração sexual da Roménia, Bulgária, Albânia, Nigéria, Serra Leoa, Camarões, Malásia e outros países da Ásia. (Fonte: http://gvnet.com/humantrafficking/France-2.htm )

Mesmo depois de verem está informação podem estar a pensar “Mas o que é que posso fazer?” “ De certeza que não há muito que EU possa fazer.”

Aí é onde se enganam, HÁ muito que pode ser feito que não é feito pela policia, ou pelo os serviços de emigração.

Nós podemos dar voz a estas meninas, a estas mulheres, a estas pessoas.

Contar a sua história partilhar estes factos, aderir a diferentes campanhas.

Espanha e Portugal (sim o nosso Portugal) são países de transito. Enquanto eu escrevo estas palavras muitas mulheres estão no nosso pias clandestinamente á espera para serem traficadas para o pais de destino.

Organizações como o The Red Thread Movement e o Stop The Traffik dão toda a informação necessária.

Espalhar a palavra e ter pessoas em locais como fronteiras e alfandegas preparadas para ver os sinais de perigo é importante.

Informar a nossa comunidades, as nossas crianças, os nossos adolescentes para este potencial perigo é importante. (Imaginem se alguém tivesse falado a estas meninas e a estas mulheres?)

Eu uso a pulseira vermelha do The Red Thread Movement, e sim é só uma pulseira mas quando eu olho para a minha pulseira e SEI que foi uma menina Nepalesa resgatada do tráfico humano que a fez numa das casas de apoio no Nepal a minha pulseira deixa de ser SÓ uma pulseira e passa a ser uma lembrança de que Eu Posso Ser A Voz Dessas Meninas. Eu posso contar a sua história e ao contar a sua história eu posso salvar uma vida.
Por cada pulseira vendida (custam 2 euros) os fundos revertem integralmente para a construção de casas de apoio e abrigo para estas meninas do Nepal.



A maior parte dos traficantes não é condenado porque estas meninas tem medo, tem vergonha, estão traumatizadas e só querem esquecer os horrores por que passaram. Torna-se então o minha responsabilidade porque sei das suas historias não deixá-los sair impunes.

Somos responsáveis por aquilo que sabemos... a minha pulseira vermelha é uma lembrança disso.






(Toda a informação neste post foi tirada do panfleto do The Red Thread Movement e do site do Stop Traffik)



Agora que já sabem vão continuar em silêncio?



Sem comentários:

Enviar um comentário