quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Tempo


Lembro-me  uns treze ou catorze anos e de a minha mãe me dizer para “Não apressar o tempo”. Acho que essa frase surgiu porque eu com essa idade passava a vida a sonhar com os meus 18, ser adulta, ir para a faculdade, viver sozinha, ter carta. Sonhava então com a minha independência.
O problema da independência é que nós só vemos a parte boa, não existe razão nenhuma para ver que vamos estar sozinhos, com contas para pagar, num trabalho que não gostamos a tentar não nos afundar. Essa parte ninguém nos dá a conhecer.

Eu conquistei a minha independência aos 17 anos a minha mãe faleceu(faleceu odeio essa palavra, morreu pronto) quando eu tinha 16 anos e o meu pai voltou para a sua terra natal e o meu irmão mais novo foi estudar para fora. Pois é ninguém nos avisa.
Quando recebi o meu primeiro salário e embora estivesse habituada a gerir uma casa nunca tinha tido tanto dinheiro só para mim. Depois de pagar a renda de um quartinho manhoso em Lisboa resolvi que havia de ser feliz, e fui durante duas semanas, até que o dinheiro acabou e andei o resto do mês a nestum e pão e já foi com muita sorte. Aprendi.

Mas ao 17 ainda era uma miúda, que se achava, mas uma miúda. Não que agora com 25 anos me ache muito velha, não acho, embora já não tenha vontade nenhuma de fazer o que fiz dos 17 aos 21 anos. Já me sabe bem estar sozinha em casa, já me sabe bem o livro e o chá em vez do vodka e do gin, sabe-me bem o silêncio em vez das batidas da noite. Não estou velha estou sensata :P
Aos 17 anos tinha a certeza que tinha todo o tempo do mundo para fazer aquilo que me apetecesse. Não foi por achar isso que não me empenhei, mas se calhar o esforço não foi tanto como o que estou a despender agora.

Entrei em enfermagem este ano, um sonho antigo do qual eu já havia desistido. Já tinha tentado de tudo, aqui e no estrangeiro mas por uma ou outra razão não conseguia nada ou não havia dinheiro, ou logo eu me punha a pensar no “Como vou eu fazer isto?”. No dia que desliguei o telefonema com a faculdade, no qual eles me disseram que podia me inscrever para o primeiro ano sem problema nenhum chorei. Chorei de alegria e de tanta frustração acumulada por tanta, tanta coisa.

Eu sei que a minha pessoa de 25 anos dá muito mais valor a esta conquista, se vai esforçar mais, e está disposta a fazer sacrifícios que a minha pessoa de 17 anos nem sequer sonhava possível.
“Não apresses o tempo.”
Não apressei, acabei até por atrasar, outras prioridades fizeram a sua casa no meu coração e agora a minha pessoa de 25 anos vai ter que as saber gerir.

O tempo as vezes escorre-nos pelos dedos e nós nem damos conta porque continuamos a pensar que temos todo o tempo do mundo.
Mas a verdade é que o tempo é que nos tem todos na mão.
É obvio para mim, agora, não era antes e não faz mal.
Maioritariamente foi nisto que passei o dia ontem a contemplar após terminar o tal livro que vos falei.
É esse desperdiçar que me mata, é esse achar que vamos viver para sempre.
Eu acredito que a total felicidade ainda está para vir, depois da morte, mas quero saber que vou e que deixo um legado, qualquer coisa.
E espero sinceramente que esse legado não sejam as historias dos copos de vodka e de gin, dos beijos as escondidas em vãos de escada e bares escuros, os cigarros fumados ás escondidas ou a roupa que tinha vestida, as parvoeiras que disse ou as asneiras que fiz.

Como dizia no livro “viver apaixonadamente, completamente e bem. Apreciar os meus amigos...amar e ser amada.”

É tão simples...

Já entendo o “Não apresses o tempo” da minha mãe ;)

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