Sou uma pessoa de absolutos, sempre fui e não sei ser de outra maneira. Se gosto é porque gosto, se não gosto então não gosto. Não sei o que é gostar mais ou menos, ou não saber exactamente. Posso por vezes não fazer a mínima ideia daquilo que quero, mas lá está, quando não sei também não sei mesmo, não é nunca um "secalhar pode ser isto, ou secalhar aquilo", não sei e pronto e vou tentando descobrir.E normalmente até sei só não o digo por esta e outra razão e pode parecer que ando no cinzento.
Ser assim já me trouxe alguns dissabores, já me fez dizer coisas de maneiras que talvez hoje me arrependa. Já disse que não gostava e depois passei a gostar mas ao menos não estive nunca no cinzento, é sempre branco ou preto.
A Filosofia sempre me deixou desconfiada, aquela constante incerteza, e busca assim muito no "in between" deixa-me de pé atrás, ou talvez seja só porque o meu pai gostava e eu tinha que ser o oposto.
Asfixia-me aquela ideia do não saber, do estar indeciso, do "não sei se diga, não sei se faça". Mata-me aos bocadinhos.
Claro que sei que há muito boa gente que é assim, no meio, e que é feliz a ser neutro, mas eu gosto do 8 e do 80.
Quando ponho em causa alguma coisa, quando não tenho certezas não me pronuncio, as palavras sábias da minha mãe "se não tens nada de bom e inteligente para dizer fica calada" vem-me á mente e eu sigo o conselho que nunca me deixou mal.
Agora quando tenho certezas, quando acredito em algo ninguém me pára. Já me mandaram para a rua quando andava no Secundário por defender os direitos dos trabalhadores mexicanos, por achar que embora economicamente o meu próprio país saía a ganhar eu não concordava com a maneira como o meu professor havia exposto a situação fazendo parecer que o meu país estava a estender a mão a quem precisava quando na realidade estava a aproveitar-se da situação. Fui para a rua por ter uma opinião mas fui de consciência tranquila.
Sou firme nas minhas crenças, não me deixo ir abaixo, não concordo para ser aceite, e não faço a ou b a pensar no que hão-de pensar de mim. Sou terrivelmente honesta e as vezes magoo as pessoas a minha volta.
Portanto não concebo o viver nas incerteza. Afecta-me de tal maneira o sistema nervoso que me sinto mal disposta, tonta com vontade de gritar.
Fui criada assim a ser honesta, ponderada, firme, e decidida e não sei ser de outra maneira. Claro que há dias em que sou melhor que outros, mas a norma é esta e nunca ao contrário.
A minha personalidade vincada vem de pequenina, sempre fui independente, sempre tive uma opinião, e a medida que uso para julgar alguém uso com maior força para me julgar a mim mesma. Tenho os meus valores vincados em mim desde miuda e nem sempre estes estão em total acordo com o Universo á minha volta.
Não podemos agradar a Gregos e Troianos. Temos direito a uma opinião mas a nossa liberdade acaba aonde a de outra pessoa começa, e ai entra o respeito pelas opiniões alheias, as crenças alheias e tudo o resto que não entre em acordo com o que acreditamos. Pelo menos eu acredito nisso.
Mas também acredito que há coisas erradas, muito erradas e que calarmo-nos por respeito é ainda mais errado. Mas como para tudo há maneiras e maneiras.
Há alturas em que o melhor mesmo é levantar a bandeira branca.
O maior problema de ser assim é que não nos contentamos, como temos padrões altos para nós próprios impomos esses mesmos padrões a quem está a nossa volta, a quem nos é proximo, a quem amamos. E muitas vezes essas expectativas não são reais e criam um certo desconforto, porque existem pessoas que são felizes no cinzento, que preferem esse lugar mais neutro, que não gostam do 8 e do 80 porque não se sentem seguros.
As expectativas que temos não são portanto saúdaveis e por vezes destroem coisas bonitas porque trazem frustração e desilusão para relacionamentos outrora saúdaveis e alegres.
É o que se faz com essas expectativas que faz a diferença entre o cair no abismo ou escalar a montanha. Quando deixamos que a frustração e a desilusão tomem conta de nós já estamos a perder para o abismo, agora quando escolhemos ouvir, lutar, acreditar estamos a escalar a montanha.
Eu gosto de pensar que escalo a montanha, mas até o alpinista mais experiente precisa de descansar e por os pensamentos em perspectiva, porque senão a meio da escalada cansa-se.
É nesse lugar onde me encontro agora. Sendo uma pessoa de absolutos e ideias fixas e uma honestidade ás vezes crua, tenho semelhantes expectativas para aqueles que amo, e quando essas pessoas não atingem o nivel que gostava de ver deparo-me com a escolha de cair no abismo ou continuar a escalada. Eu quero continuar a escalar, mas estou cansada e preciso de pôr as ideias na perspectiva correcta e lidar com coisas como o perdão, a paciência, o amor, a raiva, a frustração e até com a imensa vontade de me atirar para o abismo só porque já estou farta.
Está alpinista aqui vai sentar-se a meio da montanha olhar o pôr do sol e pedir ao Senhor Deus o discernimento para tomar a decisão correcta ( que com toda a certeza não vai incluir o atirar-me para o abismo) e ficar a descansar até sentir paz e força para voltar a escalar a montanha.
E neste preciso momento essa é também a única expectativa que eu vou por na minha lista de expectativas que tenho para aqueles a minha volta: Discernimento para tomar decisões importantes que sejam brancas ou pretas e nunca cinzentas.
Pode ser que um dia nos encontre-mos no cimo da montanha ;)
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